domingo, setembro 10, 2006

Sem dinheiro no Pedágio

Certo dia da semana passada viajei no interior do estado de SP. A distância da cidade de origem até meu destino era de 255 km, por uma rodovia desconhecida. Após percorrer mais da metade do percurso lembrei-me que aquela rodovia poderia ter pedágio e eu estava liso, sem dinheiro na carteira.
Mal concluí este pensamento e avistei o posto de cobrança. E agora? Que constrangimento! O que deveria falar com o cobrador? - Aceita cheque? Pode me voltar troco? E redeshop? Imaginei inúmeras possibilidades.
Sem tirar o pé do acelerador e indo de encontro ao meu destino, não vi nenhuma placa de retorno. Por que não entrei na cidade lá atrás para tirar dinheiro no caixa eletrônico? - lamentei. Mas também não poderia, estava em cima da hora para a entrevista marcada.
Pelo pára-brisas, um pouco ofuscado pelos raios de sol daquela manhã linda, um pouco fria, mas ensolarada, podia observar a guarita do pedágio crescendo à minha frente. Crescia também meu desespero. Poderia falar para o cobrador ficar com um documento meu, celular, relógio na certeza de que em pouco mais de 2 horas voltaria pela mesma rodovia e pararia no mesmo pedágio. Mas pararia em outra guarita, não ia dar certo.
O pior seria se mandasse eu encostar e dar meia volta. - Sem dinheiro sinto muito, mas não poderá avançar. O cobrador me diria.
Se ficasse alí parado, perderia a entrevista, chegaria atrasado. E como me justificar ? - Olha psicóloga, não poderei comparecer porque estou preso aqui no pedágio. Ou poderia, simplesmente justificar meu atraso: - Desculpe pelo atraso, mas tive que retornar no pedágio, passar numa cidade próxima para tirar dinheiro e pagar a tarifa.
E se na cidade não tivesse o meu banco? Seria mais um enunciado da lei de Murphy.
A angústia daquela situação me deixava com as bochechas rubras e quentes. Que vexame! Tudo bem que estou desempregado, mas não ter dinheiro para pagar um pedágio, o único daquela rodovia.
O pior é que não podia nem praguejar, pois o asfalto estava conservado, em alguns pontos novo, tudo sinalizado. Se fosse uma estrada desleixada, poderia justificar ao cobrador, que não iria pagar porque como cidadão não via o dinheiro do pedágio sendo utilizado para melhorar e conservar a rodovia. Mas nem isso tentaria.
Que longos 2 km até chegar ao fim derradeiro!
Decidi checar a carteira. Eu poderia estar enganado e sofrendo à toa. Cadê a "marvada"? Não estava no banco do carona e nem no console, locais onde constumo deixar quando viajo sozinho.
Não vi também a carteira do despachante com o documento do carro e nem o celular, que deveriam estar nos mesmos locais. Será que saí sem carteira, sem o documento do carro e sem o celular? Só me faltava essa! Não ter dinheiro para o pedágio, não ter como sacar dinheiro no banco, passar toda esta vergonha, além de ser detido por estar dirigindo sem habilitação e documentação do veículo.
Sem parar o carro, vistoriei sob o banco, no tapete e nada de encontrar. Cheguei pensar em parar o carro, mas era tarde demais, já estava na reta da guarita. Eram 2, somente uma em funcionamento devido ao baixo fluxo de veículos.
Parei na cancela e quando já estava abrindo a boca pra fazer o discurso, vi no porta treco na lateral da minha porta um porta-níquel que sempre carrego comigo. Como já estava de boca aberta, disfarcei perguntando quanto era o pedágio e nem vi uma placa enorme na minha frente indicando as tarifas conforme o n° de eixos de cada veículo.
- R$ 4,60. Disse-me o cobrador. Calmamente, abri o porta-níquel e ví duas notas de um real e outra de 2 reais. Ufa! Entreguei ao cobrador. Mas ainda faltavam 60 centavos. Despejei as moedas na palma da mão, eram 6. Se cada uma for de 10 centavos estarei salvo da vergonha - pensei.
Na realidade, tinha uma de 25, duas de 10 e três de 5 centavos, totalizando R$0,60. Entreguei ao cobrador, peguei o recibo e segui em frente.
Graças a Deus!!! Que sufoco!!!
Na volta passei num caixa eletrônico.
Avisei minha esposa que não voltaria a tempo para levá-la no trabalho e nem as crianças na escola.
Depois de 5 minutos ela me liga de volta perguntando: - Onde está o porta-níquel com os trocados para eu pegar um ônibus?

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